Finalmente, outubro chegou! Sim! Os demônios e maus
espíritos espreitam em cada esquina, as pessoas penduram abóboras em suas casas
e às crianças saem para pedir doces cheias de alegria em seus corações e
alheias ao fato de que podem ser sequestradas por pervertidos facilmente a
qualquer minuto!
Exceto que... não.
Afinal, moramos no Brasil, e por aqui, essa data só tem algum
significado se você for um abilolado antinacionalista como eu.
Enfim, só nos resta sentar e aproveitar bons filmes para
entrar no clima da temporada e manter os maus espíritos hoje. E hoje volto a
cumprir minha eterna missão de trazer a vocês pérolas menos conhecidas da
sétima arte para assistir nessa época tão especial. E não é qualquer filme, mas
sim um dirigido pelo mago dos efeitos especiais: Stan Winston!
Sim, aquele de Jurassic Park.
E Aliens: O Resgate.
E o Exterminador do Futuro.
E Predador.
Curioso? Então, sem mais delongas, lhes apresento:
PUMPKINHEAD!
Comecemos do princípio, então: de que se trata o filme?
O longa conta a história de Eddie Harley (Lance Henriksen),
um homem simples e que não tem muita coisa na vida além de seu filho, Billy.
Porém, numa tarde, o menino é morto em um acidente de moto causado por um grupo
de adolescentes forasteiros. Incapaz de lidar com a morte de seu filho, ele se
lembra de quando presenciou, na infância, uma criatura matar impiedosamente um
homem que implorava por socorro próximo a sua casa. Essa criatura é o
Pumpkinhead, um demônio que, segundo a lenda, poderia ser ressuscitado para
vingar alguém, mas traria amargas consequências. Tomado pela raiva, Eddie
encontra a feiticeira Haggis (Florence Schauffler), que teria o poder de
ressuscitar a criatura, e ele a convence a fazê-lo. Assim, a criatura passa a
assassinar os adolescentes responsáveis pela morte de Billy.
E de maneiras bem criativas, devo dizer. Afinal, não é todo dia que você vê alguém sendo empalado com um rifle |
A história é simples, mas bem executada, e o que a torna
interessante é que possui um ar de conto de fadas, como as fábulas e histórias
que ouvíamos de nossas mães e avós. Isso é perceptível de várias formas:
primeiramente, no modo como os personagens se referem ao monstro. Os adultos
sabem das histórias e as passam para frente, transformando a criatura numa
espécie de bicho papão, uma lenda para assustar crianças, ao mesmo tempo em que
o temem e sabem do perigo que representa, e as crianças criam canções sobre ele
e assustam umas às outras com as histórias. Depois, da própria forma como a
história é contada, focando nas consequências do ato de vingança de Eddie e do
erro dos adolescentes. É como se o filme tentasse ser uma fábula que atenta
para as consequências de não assumir os erros e do desejo de vingança.
A maior parte dos atores não tem nada de especial, pois seus
personagens não fogem do clichê de “adolescentes estúpidos que fazem merda” e “caipira
paranoico” e só estão lá para fazer volume e para que a história possa
progredir. No entanto, dois personagens se destacam: Eddie Harley, interpretado
por Lance Henriksen (quem vocês devem se lembrar de Aliens: O Resgate, mas não
de O Exterminador do Futuro) e a bruxa Haggis, interpretada por Florence
Schauffler. Eddie é um personagem
bastante humano: Apenas um homem simples, que não tem muito e que ama seu filho
acima de tudo no mundo. É fácil se relacionar com ele e entender sua sede de
vingança, e também lamentamos por seu triste destino final. Já Haggis se
destaca por ser exatamente o contrário: Ela é grotesca, cruel e o mais distante
da humanidade possível. Ela é bem exotérica e assustadora e rouba a cena em
todos os momentos que aparecem. Inclusive, protagoniza a melhor cena do filme,
que ocorre depois da invocação de pumpkinhead, quando um Eddie Harley
desesperado e arrependido vem à sua cabana para lhe pedir que desfaça o que foi
feito, e ela, calmamente, lhe explica que não é possível. Ele, desesperado,
responde: “Deus te amaldiçoe!” , ao que ela, ainda calmamente, retruca: “ele já
amaldiçoou, filho”. A maquiagem também
adiciona muito à excentricidade da personagem, mais um ponto do senhor Winston.
A ambientação e a fotografia adicionam bastante ao filme. A história toda se passa no interior dos estados unidos, principalmente dentro do mato, o que ajuda a construir aquele clima de história de acampamento. A fotografia do filme é bastante escura e fica mais azulada quando a criatura está prestes a aparecer, o que cria uma certa apreensão no espectador. Quando tudo fica azul e começa a trovejar, você já sabe que algo maligno vem por aí.
Acho que o maior destaque é a criatura em si. O design do
monstro é bastante original, apesar de um pouco parecido com o Alien, e apresenta
um trabalho de efeitos especiais muito impressionante para a época em que foi
produzida. Tudo, da produção do modelo à movimentação do monstro, que se move
de uma maneira graciosa e lenta, é extremamente bem produzido, o que é só poderíamos
esperar de um filme de Stan Winston. No entanto, parte do crédito também vai
para Tom Woodruff Jr, o homem por baixo da roupa da criatura. Caso vocês não
saibam, ele também trabalhou com Winston em Aliens: O Resgate e depois
trabalhou em todas as sequências da série Alien, o que não é pouca coisa.
Pumpkinhead é um filme único à sua maneira. Ele é bastante
simples, sem uma história muito elaborada ou muitos personagens memoráveis, mas
é essa simplicidade que o faz funcionar. Eu pessoalmente acho que ele funciona
como uma fábula, que foca nas consequências do assassinato e da vingança e
apresenta uma moral, e pode ser mais aproveitado dessa forma. No entanto, o
trabalho fenomenal de efeitos especiais no filme já faz valer a pena
assisti-lo. Mesmo se a história do filme não te impressionar, os efeitos
especiais, em especial os da criatura, com certeza vão. Apesar de simples,
deixa uma grande sensação de satisfação depois de assistido, uma sensação de
que você viu algo único, que não se vê sempre no cinema de terror.
Esse é um filme bastante desconhecido por aqui, talvez por
ter sido vítima de tradutores “geniais” quando foi receber o título nacional.
Ele recebeu dois títulos (toscos, diga-se de passagem): “Sangue Demoníaco” e “A
Vingança do Diabo”. Com certeza dá pra ver porque não pegou. Na verdade, mesmo
lá fora é uma obra relativamente desconhecida, mas isso acrescenta um certo
Status Cult ao filme.
Em uma nota final, o filme foi homenageado pela banda The
Misfits (sobre a qual também falarei um dia) com a música “Pumpkinhead”, no álbum
Famous Monsters. A música ficou bem legal e vocês podem ouvi-la aqui.
O filme ganhou três sequências: A primeira delas é Pumpkinhead: Blood Wings, lançada nos cinemas em 1993, e as duas sequências seguintes, Ashes to Ashes e Blood Feud, foram dois telefilmes produzidos para o canal Syfy em 2006 e 2007. Não as assisti, mas ouvi que o nível de qualidade é muito menor em relação à obra original e, considerando o histórico dos filmes da Syfy, não duvido muito disso. Fato interessante é que o terceiro filme, Ashes to Ashes, conta com a presença de niguém menos que Doug Bradley, o Pinhead. Então vale a conferida.
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fiquem ligados, que haverão mais algumas postagens antes do mês acabar.
Até breve.
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