Olá, pessoal! Depois de férias longas e bem aproveitadas,
estou de volta com o blog. Peço desculpas pelo longo período sem atualizações,
mas houve uma mistura de preguiça e falta de ideias, e aí já sabem como é. Já
disse que não posso prometer muita regularidade, mas tenho planos para
postagens futuras, portanto, aguardem. Devo avisar que a postagem de hoje
apresenta imagens fortes. Se você é sensível, recomendo que veja alguma de
minhas postagens anteriores ou volte outro dia. Também peço desculpas pela
falta de elemento humorístico, mas certa seriedade é necessária para falar
sobre a obra de hoje.
Dito isto, vamos nós!
Como todos sabemos, universos paralelos são muito presentes
nos quadrinhos de super-heróis. Eles permitem que se possa contar uma história
alterando significantemente personagens conhecidos e suas histórias, mas sem
comprometer a cronologia principal. Na Marvel não é diferente. Há diversos
mundos com muitas constantes e variáveis, que vão de histórias alternativas comuns a completas tragédias. Mas,
entre todos os universos da editora, dificilmente há algum tão terrível e
sombrio como o universo que vemos na minissérie Ruínas. Mas comecemos do início.
Ruínas é uma minissérie em duas partes, escrita por Warren
Ellis e desenhada por Terese Nielsen e Cliff Nielsen, publicada nos estados
unidos em agosto de 1995 e no Brasil em Julho de 1998, pela editora Mythos. A
série faz parte do selo Alternaverse. Mas do que realmente se trata essa série?
Aqui, somos guiados pelo olhar do repórter do Clarim Diário
Phil Sheldon (protagonista da clássica HQ Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross,
e que será referenciada várias vezes ao longo deste artigo). No entanto em vez
de mostrar como é a vida de um cidadão comum num mundo repleto de “Maravilhas”,
aqui presenciamos uma realidade onde tudo deu terrivelmente errado. Somos
apresentados a um mundo distópico, comandado a mão de ferro pelo “Presidente
X”, na verdade, Charles Xavier, que conta com a ajuda de seu braço direito,
Warren Worthington III, cuja natureza mutante é mantida em segredo. A situação de “temidos e odiados” dos mutantes é muito
pior aqui, e a maioria é mantida numa prisão especial no Texas, onde sofrem
abusos e são mutilados para que não possam usar seus poderes, e os vingadores
são um grupo de heróis que se rebelaram contra o regime ditatorial de Xavier,
mas são traídos pela Feiticeira Escarlate e mortos logo no primeiro volume.
Para piorar, uma série de incidentes estranhos vem acontecendo ao redor do
mundo, com pessoas sofrendo acidentes horríveis que levam a mutilações
grotescas e mortes dolorosas. Esses acontecimentos chamam a atenção de Sheldon,
que embarca numa viajem pelos Estados Unidos, de um campo de concentração Kree
ao cadáver de um devorador de mundos flutuando no espaço, na tentativa de
entender o que deu tão terrivelmente errado e alertar o mundo antes de sua
morte.
A morte dos vingadores. |
A primeira coisa que se deve ressaltar sobre esta obra é que
se trata de uma paródia de Marvels,e, ao mesmo tempo que compartilha muitas
características com a obra prima de Busiek e Ross, também segue por um caminho
oposto, possuindo identidade e mérito próprios, e mesmo nas similaridades a
obra difere muito do material original. A premissa é similar, visando
representar os super-heróis de maneira realista, através do ponto de vista de
um homem comum. No entanto, Ruínas apresenta um ponto de vista mais pessimista.
Os acidentes que outrora teriam dado aos heróis seus poderes aqui apresentam
consequências muito mais terríveis, resultando em mortes ou deformações, sendo
retratados de forma mais próxima ao que realmente aconteceria, embora com
eventuais exageros. Também é comum que mutantes percam o controle sobre seus
poderes e é interessante também notar que a atitude antimutante aqui é muito
mais intensa.
Uma das
características mais interessantes (e atrozes) desta história é a representação
dos personagens. Ellis pega as origens e poderes de alguns dos personagens mais
conhecidos do universo Marvel e perverte totalmente, resultando em imagens
grotescas, que fazem o estômago embrulhar e podem chocar facilmente os mais
impressionáveis. Por exemplo, temos um Peter Parker que adquire uma horrenda
doença de pele depois de ser picado pela aranha irradiada e um Bruce Banner que
se torna uma massa de tumores pulsantes ao ser atingido pela bomba gama. O
escritor não poupa detalhes e não segura nenhum soco contra o leitor. Portanto,
pode ter certeza que você vai ver seu personagem favorito sofrer de uma maneira
horrível. É interessante observar as versões alternativas de alguns
personagens, que foram alteradas para melhor se encaixar nesse universo mais
realista. Por exemplo, Johnny Blaze que é um piloto de moto em um circo de
aberrações e que se apresenta pondo fogo na própria cabeça (o que, como vocês
imaginam, não termina bem) ou Wilson Fisk, que aqui é o diretor sádico da
prisão de mutantes. Outros personagens coadjuvantes fazem aparições especiais,
contando as histórias do que aconteceu aos heróis, e outros são apenas
mencionados. De qualquer forma, há muitas menções e referencias ocultos, alguns
mais simples de serem notados, outros mais complexos.
E você aí, reclamando de Zumbis Marvel. |
Tenho que comentar também sobre o traço, que é um dos
elementos mais importantes desse quadrinho. Os desenhistas utilizam um traço
similar ao de Alex Ross, só que mais distorcido e sujo, que confere um clima
muito particular à história. Terence e
Cliff Stamp fazem um ótimo trabalho, apresentando um traço realista e ao mesmo
tempo bastante distorcido, que, enquanto presta homenagem ao traço de Ross,
também apresenta algo original e confere identidade ao quadrinho. Claro que
nada disso adiantaria sem a paleta de cores suja e escura de Chris Moeller, que
conferem à história um clima sombrio e pessimista e é importantíssima para
representar o show de horrores doente e nojento que é o mundo apresentado na
obra, e também o distancia da paleta quente e vibrante de Marvels.
Ellis é conhecido por seus roteiros de enorme qualidade e
por grandes trabalhos para a Marvel, e aqui ele não decepciona. Testemunhamos
os horrores pelos olhos de Phil Sheldon e ficamos realmente chocados com tudo o
que acontece, nos perguntando junto com ele como tudo pôde dar tão errado, e nos
horrorizamos com a perspectiva desses acidentes ocorrendo a pessoas reais. O
escritor não poupa detalhes e não tem dó dos leitores. As cenas são
horrivelmente detalhadas e ficarão marcadas a fogo em sua memória por muito
tempo depois que você terminar sua leitura.
Finalizando, essa não é uma história para pessoas mais
sensíveis ou mesmo para o leitor casual. É cruel, impiedosa e melancólica e
diversas vezes repulsiva, e definitivamente não vai melhorar seu dia depois que você terminar a leitura. No entanto, merece notoriedade pelo
seu impacto. É uma história que marca, que fica na memória e que causa emoções
fortes como poucas são capazes de fazer. Ao mesmo tempo, é uma paródia e uma
homenagem à já tão citada Marvels, e fazem um ótimo trabalho em homenagear a
obra original, mas conseguindo manter identidade própria e seguir seu próprio
rumo. É uma recomendação cuidadosa. Se você é um grande apreciador de super-heróis
ou de quadrinhos em geral, é obrigatória. Também é uma ótima recomendação se
você deseja encontrar algo diferente nas histórias de super-heróis tradicionais e fãs de
Marvels também poderão encontrar algo para amar aqui. No entanto, se você se atrai mais por
histórias leves, é extremamente sensível a imagens ou temas fortes, ou
facilmente impressionável, fique longe desta obra, pois ela definitivamente não
vai acrescentar nada a você.
Por hoje é só, pessoal. Se você gostou deste post,
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Até a próxima!