quarta-feira, 16 de março de 2016

Ruínas: O Fim do Universo Marvel



Olá, pessoal! Depois de férias longas e bem aproveitadas, estou de volta com o blog. Peço desculpas pelo longo período sem atualizações, mas houve uma mistura de preguiça e falta de ideias, e aí já sabem como é. Já disse que não posso prometer muita regularidade, mas tenho planos para postagens futuras, portanto, aguardem. Devo avisar que a postagem de hoje apresenta imagens fortes. Se você é sensível, recomendo que veja alguma de minhas postagens anteriores ou volte outro dia. Também peço desculpas pela falta de elemento humorístico, mas certa seriedade é necessária para falar sobre a obra de hoje.

Dito isto, vamos nós!

Como todos sabemos, universos paralelos são muito presentes nos quadrinhos de super-heróis. Eles permitem que se possa contar uma história alterando significantemente personagens conhecidos e suas histórias, mas sem comprometer a cronologia principal. Na Marvel não é diferente. Há diversos mundos com muitas constantes e variáveis, que vão de histórias alternativas comuns a completas tragédias. Mas, entre todos os universos da editora, dificilmente há algum tão terrível e sombrio como o universo que vemos na minissérie Ruínas. Mas comecemos do início.

Ruínas é uma minissérie em duas partes, escrita por Warren Ellis e desenhada por Terese Nielsen e Cliff Nielsen, publicada nos estados unidos em agosto de 1995 e no Brasil em Julho de 1998, pela editora Mythos. A série faz parte do selo Alternaverse. Mas do que realmente se trata essa série?
Aqui, somos guiados pelo olhar do repórter do Clarim Diário Phil Sheldon (protagonista da clássica HQ Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross, e que será referenciada várias vezes ao longo deste artigo). No entanto em vez de mostrar como é a vida de um cidadão comum num mundo repleto de “Maravilhas”, aqui presenciamos uma realidade onde tudo deu terrivelmente errado. Somos apresentados a um mundo distópico, comandado a mão de ferro pelo “Presidente X”, na verdade, Charles Xavier, que conta com a ajuda de seu braço direito, Warren Worthington III, cuja natureza mutante é mantida em segredo. A situação de “temidos e odiados” dos mutantes é muito pior aqui, e a maioria é mantida numa prisão especial no Texas, onde sofrem abusos e são mutilados para que não possam usar seus poderes, e os vingadores são um grupo de heróis que se rebelaram contra o regime ditatorial de Xavier, mas são traídos pela Feiticeira Escarlate e mortos logo no primeiro volume. Para piorar, uma série de incidentes estranhos vem acontecendo ao redor do mundo, com pessoas sofrendo acidentes horríveis que levam a mutilações grotescas e mortes dolorosas. Esses acontecimentos chamam a atenção de Sheldon, que embarca numa viajem pelos Estados Unidos, de um campo de concentração Kree ao cadáver de um devorador de mundos flutuando no espaço, na tentativa de entender o que deu tão terrivelmente errado e alertar o mundo antes de sua morte.

A morte dos vingadores.

A primeira coisa que se deve ressaltar sobre esta obra é que se trata de uma paródia de Marvels,e, ao mesmo tempo que compartilha muitas características com a obra prima de Busiek e Ross, também segue por um caminho oposto, possuindo identidade e mérito próprios, e mesmo nas similaridades a obra difere muito do material original. A premissa é similar, visando representar os super-heróis de maneira realista, através do ponto de vista de um homem comum. No entanto, Ruínas apresenta um ponto de vista mais pessimista. Os acidentes que outrora teriam dado aos heróis seus poderes aqui apresentam consequências muito mais terríveis, resultando em mortes ou deformações, sendo retratados de forma mais próxima ao que realmente aconteceria, embora com eventuais exageros. Também é comum que mutantes percam o controle sobre seus poderes e é interessante também notar que a atitude antimutante aqui é muito mais intensa.

  
Uma das características mais interessantes (e atrozes) desta história é a representação dos personagens. Ellis pega as origens e poderes de alguns dos personagens mais conhecidos do universo Marvel e perverte totalmente, resultando em imagens grotescas, que fazem o estômago embrulhar e podem chocar facilmente os mais impressionáveis. Por exemplo, temos um Peter Parker que adquire uma horrenda doença de pele depois de ser picado pela aranha irradiada e um Bruce Banner que se torna uma massa de tumores pulsantes ao ser atingido pela bomba gama. O escritor não poupa detalhes e não segura nenhum soco contra o leitor. Portanto, pode ter certeza que você vai ver seu personagem favorito sofrer de uma maneira horrível. É interessante observar as versões alternativas de alguns personagens, que foram alteradas para melhor se encaixar nesse universo mais realista. Por exemplo, Johnny Blaze que é um piloto de moto em um circo de aberrações e que se apresenta pondo fogo na própria cabeça (o que, como vocês imaginam, não termina bem) ou Wilson Fisk, que aqui é o diretor sádico da prisão de mutantes. Outros personagens coadjuvantes fazem aparições especiais, contando as histórias do que aconteceu aos heróis, e outros são apenas mencionados. De qualquer forma, há muitas menções e referencias ocultos, alguns mais simples de serem notados, outros mais complexos.
E você aí, reclamando de Zumbis Marvel.

Tenho que comentar também sobre o traço, que é um dos elementos mais importantes desse quadrinho. Os desenhistas utilizam um traço similar ao de Alex Ross, só que mais distorcido e sujo, que confere um clima muito particular à história.  Terence e Cliff Stamp fazem um ótimo trabalho, apresentando um traço realista e ao mesmo tempo bastante distorcido, que, enquanto presta homenagem ao traço de Ross, também apresenta algo original e confere identidade ao quadrinho. Claro que nada disso adiantaria sem a paleta de cores suja e escura de Chris Moeller, que conferem à história um clima sombrio e pessimista e é importantíssima para representar o show de horrores doente e nojento que é o mundo apresentado na obra, e também o distancia da paleta quente e vibrante de Marvels.
Ellis é conhecido por seus roteiros de enorme qualidade e por grandes trabalhos para a Marvel, e aqui ele não decepciona. Testemunhamos os horrores pelos olhos de Phil Sheldon e ficamos realmente chocados com tudo o que acontece, nos perguntando junto com ele como tudo pôde dar tão errado, e nos horrorizamos com a perspectiva desses acidentes ocorrendo a pessoas reais. O escritor não poupa detalhes e não tem dó dos leitores. As cenas são horrivelmente detalhadas e ficarão marcadas a fogo em sua memória por muito tempo depois que você terminar sua leitura.


Finalizando, essa não é uma história para pessoas mais sensíveis ou mesmo para o leitor casual. É cruel, impiedosa e melancólica e diversas vezes repulsiva, e definitivamente não vai melhorar seu dia depois que você terminar a leitura. No entanto, merece notoriedade pelo seu impacto. É uma história que marca, que fica na memória e que causa emoções fortes como poucas são capazes de fazer. Ao mesmo tempo, é uma paródia e uma homenagem à já tão citada Marvels, e fazem um ótimo trabalho em homenagear a obra original, mas conseguindo manter identidade própria e seguir seu próprio rumo. É uma recomendação cuidadosa. Se você é um grande apreciador de super-heróis ou de quadrinhos em geral, é obrigatória. Também é uma ótima recomendação se você deseja encontrar algo diferente nas histórias de super-heróis tradicionais e fãs de Marvels também poderão encontrar algo para amar aqui.  No entanto, se você se atrai mais por histórias leves, é extremamente sensível a imagens ou temas fortes, ou facilmente impressionável, fique longe desta obra, pois ela definitivamente não vai acrescentar nada a você.

Por hoje é só, pessoal. Se você gostou deste post, compartilhe, divulgue entre os amigos, siga o blog, comente e curta nossa página no facebook.

Até a próxima!